Waves PuigTec

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Equalização típica de um equalizador atípico

Talvez os equalizadores (junto com os compressores), sejam as maiores listas de plug-ins na sua DAW. São centenas de fabricantes e modelos por toda a parte.

O Pultec (fig. 1) é disparado um dos equalizadores mais interessantes e curiosos de se trabalhar, e a primeira simulação que chamou atenção no mercado foi o plug-in da Universal Audio que vinha na placa UAD-1.

fig. 1 - Pultec

fig. 1 – Pultec

 

Reparem que usei o termo “curioso” e não o termo “complexo”. O fato dele ter um formato “diferente” pode até fazer com que ele não seja intuitivo, mas isso não quer dizer que ele é “difícil”.

Vamos neste artigo aprender um pouco mais sobre seu funcionamento.

Entendendo seus controles

Podemos dividir o PuigTec (ou qualquer simulação do Pultec) em três setores (fig. 2).

fig. 2 - áreas do PuigTec

fig. 2 – áreas do PuigTec

 

Vindo da esquerda para a direita, o primeiro setor é um Filtro Shelving, onde o usuário pode escolher a frequência de atuação. A parte curiosa fica por conta do fato de ter um botão para amplificar (boost) e outro para atenuar (atten). Ai que mora o mistério. De forma geral os equalizadores tem apenas um botão em que o usuário é obrigado a escolher se quer amplificar ou atenuar.

Então fica a pergunta: o que acontece colocarmos o mesmo valor nos dois botões? Ou seja, amplificar 6 e atenuar 6? Um cancela o outro?

Então caro leitor, neste momento o ideal seria você experimentar você mesmo. Faça esta experiência acima e veja que não é difícil de ouvir e não há nada que eu possa escrever que possa ser mais preciso do que sua própria experiência.

Entendendo a sonoridade

Mas entendo que você possivelmente não possa fazer a audição recomendada acima… Talvez você esteja lendo este artigo no ônibus, na rua ou na sala de espera de algum dentista e não está no seu estúdio.

Mais que isso, infelizmente as novas gerações estão muito mais acostumadas (outros diriam viciadas) a “ouvir” som baseado no que estão “vendo”, no caso as curvas de equalização. É um grave erro, uma vez que usar a informação visual como muleta faz com que você automaticamente desconfie mais do seu ouvido, o que não faz o menor sentido para quem quer trabalhar com áudio.

Então para explicar melhor o que acontece no exemplo acima, vamos usar o Reinassence EQ da Waves para demonstrar visualmente o que acontece.

Na figura 3, temos o REQ 6 com um Shelving com ganho de 12dB em 125Hz. Repare que todas as outras bandas estão zeradas, mas há um corte por volta de 400Hz. Curioso, não?

Fig. 3 - Comparação com Waves REQ 6

Fig. 3 – Comparação com Waves REQ 6

O que acontece no Pultec é algo similar… O processamento não é linear. Ao mesmo tempo que o usuário pode amplificar uma faixa de frequência, o botão de atenuação permite criar filtros ressonantes, que ajudam a dar mais ênfase próximo da frequência de corte (125Hz) e criam uma atenuação nas frequências vizinhas, o que ajuda (no caso dos graves) a “limpar” a região e dar mais peso sem embolar a mix.

Este “defeito” é benéfico na maioria dos instrumentos, uma vez que ajuda a definir as regiões de interesse em cada um deles. É comum dizer que é um “equalizador musical”, que em outras palavras, significa simplesmente que as suas frequências pré-definidas combinadas com esta característica ressonante e falta de linearidade é bem-vinda e agradável na maioria dos instrumentos acústicos.

Também é importante notar que, mesmo com os controles zerados (sem ganho ou atenuação), ele atua sobre o sinal original alternando sua resposta de frequência. Felizmente, na maioria dos casos, ela é saudável e isso que faz com que ele seja mais um daqueles periféricos que geram mitos e histórias exageradas de equipamentos mágicos que “fazem a mix soar melhor só de ligar”. O gráfico (fig. 4) apresenta a curva de resposta do equalizador zerado, apenas com alteração com o potênciometro de frequência regulado para 20Hz (vermelho) e em 100Hz (amarelo).

Cuidado: não se deixe confundir pelos olhos. As curvas da fig. 4 são muito diferentes, mas a escala está superdimensionada se comparada ao gráfico de um equalizador. Cada linha horizontal representa apenas 0,1dB.

Fig. 4 - Resposta de frequência com PuigTec zerado

Fig. 4 – Resposta de frequência com PuigTec zerado

 

Aos outros controles

Como dito anteriormente, ele é dividido em três áreas mas só falamos da primeira área até agora.

Pois bem, a segunda área é um filtro do tipo Bell/Peaking. Ou seja, diferente do Shelving que afeta todo o espectro a partir de uma frequência de corte, o Bell/Peaking afeta em torno de uma certa frequência.

Repare que este botão tem um controle chamado de “Bandwidth”, responsável por determinar a largura de banda. Podemos associar este controle ao “Q” de um equalizador paramétrico tradicional.

Outro ponto a notar é que este segundo setor tem apenas um botão de amplificação (boost).

No terceiro setor, temos uma situação inversa. O que temos é um Shelving passivo, ou seja, só pode ser usado para atenuação e o usuário tem que escolher uma das três frequências de corte pré-determinadas (5, 10 ou 20kHz).

Por último, a Waves também incorporou o botão “Mains” que é a opção de simular o ruído de 50Hz ou 60Hz da rede elétrica. Enfim, não é um parâmetro para se preocupar pois não há nenhum benefício sonoro a não ser que se queira adicionar ruído!

Limitado, mas direto ao ponto

Eu percebo nas minhas aulas que conforme os alunos vão entendendo os parâmetros, há uma certa sensação de que o Pultec é um equalizador muito limitado, sem todo o poder de controle normalmente encontrado nos equalizadores convencionais já disponíveis na sua DAW.

Para encerrar então, vale a pena voltar ao início do artigo. Lembre-se que a proposta de usar um Pultec é justamente ter a chance de “sair do óbvio”, e experimentar algo com uma abordagem diferente e não linear. As frequências pré-definidas por exemplo, podem parecem limitantes a princípio, mas ajudam a solucionar a dúvida cruel, se é melhor dar ganho em 60, 80 ou 100Hz por exemplo.

A partir do momento que nem existe a possibilidade de dar ganho em 80Hz, a indecisão entre 60 e 100Hz é bem mais fácil de eliminar comparando resultados.

Por último, vale também destacar que cada unidade física (hardware) do Pultec tem uma sonoridade única. Depende da época em que foi construído, do estado de manutenção e peças à disposição na época. Mais que isso, o Pultec se tornou um “conceito” de equalização, e empresas como Manley e Universal Audio fazem suas réplicas de maneiras diferentes.

Logo, não vale perder muito tempo discutindo se a simulação da UAD, Waves, TubeTech ou Avid é a mais fiel. É hora de se concentrar em música, se concentrar em som e mãos a obra!

Abraços,


cris3x4 blog proclass Cristiano Moura é instrutor certificado oficialmente pela Avid. Por meio da ProClass,  oferece consultoria, treinamentos customizados além de lecionar cursos oficiais em Avid  Media Composer.