Waves InPhase – O pavor do “problema de fase” sob controle

Artigo publicado na Revista Áudio, Música & Tecnologia. Para conhecer mais sobre a revista, clique aqui.

Para saber mais sobre treinamentos e certificações oficiais em Waves, Pro Tools ou treinamentos de mixagem, clique aqui.


Desafamento, problema de fase, cancelamento de fase… estas são algumas maneiras de se dizer: “tem alguma coisa estranha”.

Talvez este seja um dos assuntos mais levantados pelos alunos nos cursos de Mixagem da ProClass, e de forma geral, percebemos certa obsessão misturada com paranóia relacionada, como se algo catastrófico pudesse acontecer se a fase não for corrigida.

Cheguei a conclusão que problema de fase é como se fosse um “fantasma” que assombra o profissional de áudio. Algo sublime, mas perigoso. Algo que não vemos ou tocamos, mas que está lá o tempo todo, disposto a arruinar nossa mix só para se divertir com nosso fracasso.

O medo do desconhecido talvez seja o pior de todos, mas não é errado dizer que problemas de fase não corrigidos podem fazer com que uma mix perca boa parte do seu potencial, e por isso a Waves criou o InPhase. Em poucas palavras, é uma maneira de ver, analizar e corrigir problemas de fase.

O que é um cancelamento de fase?

Ela acontece quando captamos a mesma fonte sonora de duas ou mais maneiras diferentes. Podem ser dois microfone, ou um microfone + Linha por exemplo.

Nestes casos, existe a grande possibilidade de que cada sinal tenha sido captado com alguma diferença de tempo entre eles por conta da distância entre os microfones e a fonte sonora e também pode acontecer quando tem algum processador na cadeia do sinal. Apesar do atraso entre os sinais ser de poucos milisegundos e não ser percebido como “atraso”, é o suficiente para acabar com o que chamamos de coerência de fase entre os sinais, criando o fenômeno de comb filter, onde de maneira simplicada, significa que algumas frequências serão acentuadas e outras serão atenuadas ou até canceladas. Logicamente, é crucial para obter um som claro e limpo.

Microfonando em direções opostas

a) Microfone por dentro do bumbo e outro por fora no kick.

b) Microfone na parte superior da caixa e outro na esteira.

c) Microfone no frente de um amplificador, e outro na traseira.

Estes são alguns casos comuns de microfonação em direção oposta. Apesar de ser interessante captar uma fonte sonora por ângulos diferentes, esta técnica de microfonação faz com que os sinais também sejam capturados com a fase invertida. Também é comum dizer que os sinais estão com um defasamento de fase de 180 graus (fig. 1).

Fig. 1 – Duas ondas com fases opostas

Este é o caso mais extremo, e o resultado é uma perda de graves, indefinição e perda de nível de sinal. Felizmente, é facilmente resolvido pressionando o botão de inversão de polaridade encontrado na maioria dos equalizadores. (fig. 2)

fig. 2 – Botão de inversão de polaridade

Para ver isso na prática, basta pegar uma música em estéreo, importar para duas pistas mono e inverter a polaridade de um dos lados com um equalizador qualquer. É uma maneira radical, mas efetiva de entender o tamanho do problema.

E onde o Waves InPhase entra?

a) um microfone no corpo do violão e outro no traste.

b) microfones de overhead de bateria, um à esquerda e outro à direita

c) Um microfone na frente no amp da guitarra, e outro mais afastado para ambiência.

Mais acima, falamos sobre o cancelamento de fase de 180 graus, proveniente de captação em direções opostas. Porém, desta vez estamos falando de dois microfones apontados para mesma direção, apenas com distâncias e ângulos diferentes. O resultado é apenas um pequeno deslocamento no tempo (fig. 3) e diferença de timbre, muito mais sutil, mais ainda assim merece a mesma atenção, e simplesmente inverter a polaridade não vai resolver.

fig. 3- Ondas sonoras levemente deslocadas

O que precisamos neste caso é deslocar a onda sonora de um dos canais, eliminando a diferença de tempo entre os dois sinais. Agora o InPhase começa a ser útil, pois apesar de ser possível fazer isso diretamente na onda sonora em qualquer DAW, o InPhase oferece mais precisão e recursos para este ajuste.

Métodos e parâmetros básicos

O plug-in tem dois canais, atribuído como padrão ao canal esquerdo e direito de uma fonte estéreo, mas pode ser atribuído a qualquer outra pista da sessão via side-chain.

Como um exemplo de side-chain, podemos imaginar um canal de overhead que precisa ser alinhado com o microfone da caixa. Neste caso, o InPhase será inserido no Over, e a caixa será enviada via side-chain. Para isso, faça um endereçamento via Sends do canal da caixa para algum bus, levante o fader e acione o pre-fader. Já no InPhase, acione o Key input do plug-in.

Com o setup concluído, vamos acionar o botão “capture” (fig. 4) e deixar a sessão tocar um pouco para que o InPhase possa de fato, capturar material para analisar.

fig 4 – Principais parâmetros do InPhase

Já com a forma de onda do trecho dentro do plug-in, o usuário tem uma clara visão da diferença de tempo entre os dois sinais e pode usar os botões de delay (fig. 4) para corrigir. Repare que conforme a onda vai se deslocando, na parte inferior (fig. 4) temos uma referência da coerência de fase. Quanto mais para a direita do zero, melhor. Se o valor ficar negativo, a fase está comprometida.

Onde o InPhase se destaca

Alinhar as pistas com relação ao tempo de forma a ficar em coerência de fase, certamente traz benefícios, mas novamente, é algo que poderíamos fazer diretamente na pista, certo?

O problema é que muitas vezes, por mais que um áudio tenha sido alinhado um com o outro, pelo fato deles terem timbres diferentes, podemos ter certas frequências em fase e outras frequências fora de fase.

E ai é onde o InPhase se torna uma ferramenta poderosa, pois com o usuário pode aplicar filtros em cada um dos canais. Deste modo, é possível ajustar a coerência de fase usando como referência uma certa faixa de frequência.

Conforme o usuário altera os filtros, a forma de onda acompanha e apresenta os resultados, alterando sua forma.

Sugestão para colocar a mão na massa

Para quem ficou interessado em estudar mais e aprender sobre o funcionamento do Waves InPhase, eu recomendo primeiro simplesmente carregar uma música no formato estéreo e ver quais são os resultados ao usar os filtros.

Num segundo passo, faça uma gravação de um baixo via DI e microfonando também o amplificador. Vale fazer o mesmo experimento com guitarras distorcidas. Quanto mais distorcido, melhor. A interação dos filtros e a diferença de delay é mais fácil de ser percebida nestes casos.

Por último, experimente com a caixas de bateria. Como a fonte sonora não tem tanta sustentação é um pouco mais complicado de perceber, mas se você fez os testes anteriores, seu ouvido já está mais preparado para perceber as nuances.

Abraços e até a próxima!


cris3x4 blog proclass

 Cristiano Moura é produtor musical e instrutor certificado da Avid. Atualmente leciona cursos oficiais em Pro Tools, Waves, Sibelius e os treinamentos em mixagem na ProClass. Por meio da ProClass, oferece consultoria, treinamentos customizados em todo o Brasil.