Artigo publicado na Revista Áudio, Música & Tecnologia. Para conhecer mais sobre a revista, clique aqui.
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Uma visão mais educacional e menos comercial
Este é um artigo diferente, onde o conteúdo não é diretamente técnico e concreto. Pelo contrário, é totalmente baseado na opinião particular do autor, algo que não deve ser encarado como “verdade absoluta” e está sujeita à contra-argumentações e contestações.
Pelo motivo acima, daqui para frente usarei a linguagem em primeira pessoa.
Transitando por congressos, palestras, aulas e grupos de redes sociais não há a menor dúvida de que a pergunta que recebo em maior quantidade é: “por que alguém ainda usa Avid?” e suas variantes como “Por que Avid é o padrão da indústria cinematográfica?” ou “O que o Avid tem demais?”.
É uma pergunta simples mas que eu, como educador e sem nenhum vínculo comercial com a Avid, tenho que pensar mil vezes antes de responder sem parecer que estou levando uma bandeira ou “comprando uma briga que não é minha”. Como falei, minha missão é informar, ensinar e fazer com que todos possam extrair o máximo da ferramenta e não “converter usuários” a adotar o Avid.
O que faz da ferramenta “a melhor ferramenta”?
Uma frase muito batida mas sempre atual é que “a melhor ferramenta é aquela que você domina melhor”.
De certa forma, não deixa de ser verdade e já resolve boa parte do mistério do que porque o Avid Media Composer mantém boa parte dos seus clientes. Ainda temos uma série de editores na ativa que aprenderam edição de forma linear e conhecem o Avid desde sua primeira versão. Então enquanto muitos usuários de Final Cut Pro e Adobe Premiere costumam enxergar o Avid como uma ferramenta “dura” ou “ultrapassada”, editores experientes em Avid adoram o fato de que podem sentar em qualquer versão do Avid e se sentir em casa.
Todos nós acompanhamos como foi a recepção do Final Cut Pro X… Ele é uma ferramenta incrível e eu mesmo a utilizo em alguns projetos, mas que usuários fiéis ao FCP7 se sentiram traídos, com a sensação de que a Apple deu preferência por cativar novos usuários.
Ou seja, para quem utiliza outra ferramenta ou ainda quer entrar no mercado, sem dúvida é uma barreira a mais. Mas para usuários atuais de Avid, a melhoria da ferramenta sem mudar suas características essenciais é vista como um ato de lealdade da Avid para com os mesmos e é muito bem vista pelo mercado.
Velocidade vs. criatividade
O mundo moderno está cada vez mais nos fazendo achar que ser rápido é a única coisa que importa.
Mas no ramo das artes (sim, editar é uma arte), quando se contrata um editor ou qualquer profissional de elite, não é por sua velocidade mas pela sua capacidade criativa e sensibilidade, e nada melhor do que deixá-lo usar sua ferramenta de costume.
A ferramenta correta é tão fundamental quanto o domínio dela
Adoraria que tudo fosse simplesmente assim, onde você aprende bem uma ferramenta e tudo se resolve. Mas não é. Imagine que você tenha um alicate excelente e o domine muito bem. Agora imagine que você precise apertar uma porca ou um parafuso. Você pode ter melhor alicate do mundo e você ser um expert no seu uso, mas temos que concordar que ele não é a ferramenta ideal, pois vai dar mais trabalho e possivelmente vai espanar o parafuso em algum momento.
Entrando nas questões técnicas
Então a melhor ferramenta precisa primeiramente oferecer os recursos que você precisa. E agora que falamos bastante das questões históricas e até de certa forma psicológicas, vamos entrar nos aspectos mais técnicos.
Vamos novamente a questão central: por que o Avid é a principal opção para cinema?
Eu percebo que as pessoas que perguntam isso, costumam editar em outros segmentos, desde peças publicitárias a eventos sociais. Quem edita para cinema, mesmo que use Premiere ou FCP normalmente já sabem mais ou menos as diferenças. Vamos ver a seguir.
Grandes projetos precisam de segurança e integração ao extremo
Quando o assunto é estabilidade, gerenciamento de mídia, compartilhamento de um mesmo projeto e sistemas de trabalho com múltiplas ilhas de edição rodando ao mesmo tempo, há pouca ou até nenhuma opção que se compare aos sistemas Avid, que além do Media Composer, inclui o ISIS, Unity e Interplay.
Este é um cenário difícil de se imaginar, a não ser que você esteja nele. São ambientes específicos de grandes produções, jornalismo por exemplo, mas dificilmente vivenciado por quem edita um programa de entrevistas ou um show de pequeno/médio porte.
Este sistema de trabalho permite não apenas facilidade na distribuição de mídia mas também updates automáticos (similar ao Dropbox) do que todos estão fazendo, essencial quando várias pessoas estão trabalhando no mesmo projeto.
Com o ISIS, HDs podem ser desconectados sem deixar nenhuma mídia offline e sem nem desligar as estações, graças ao seu sistema de redundância. É o tipo de segurança mais que bem vinda trabalhando em larga escala.
Há muita tecnologia envolvida, capaz de lidar basicamente com qualquer limitação… Há o Avid Media Composer | Cloud que permite fazer ingest de material e até editar pela internet mesmo que você esteja conectado via um modem 3G.
O Avid Media Composer também tem uma característica muito peculiar. É uma das únicas ferramentas (de qualquer setor), que permite que versões antigas possam abrir projetos criados em versões mais recentes. Além disso, é totalmente compatível entre Windows e Mac, que também é algo comum em grandes projetos onde ilhas tem funções específicas.
Agora, mesmo num ambiente menor e sem o ISIS é muito tranquilo de se trocar um HD por outro sem nenhum problema de relink, pois a maneira com que o Avid gerencia sua mídia não é baseada no local físico em que o material se encontra no HD, mas em metadados. Em outras palavras, não interessa se sua mídia está no HD C, D ou E se você está no windows por exemplo. Pode mover facilmente sua mídia entre eles sem o exaustivo processo de relink.
Também vale mencionar que para este segmento, é essencial se comunicar bem com outras ferramentas, como por exemplo, After Effects, Da Vinci Resolve, Pro Tools ou Autodesk Smoke por exemplo. Apesar do Avid não exportar em XML, protocolos como EDL e OMF já foram mais do que testados pelo mercado e funcionam muito bem, e em particular o protocolo AAF, retém uma gama de informações entre aplicativos como os efeitos usados, parâmetros, keyframes e muito mais.
Muitas funções na ferramenta primária
Faz algum tempo em que o Avid deixou de ser meramente uma “ferramenta de edição”. Em especial sobre efeitos, O Avid vem com muitas opções que possibilita aos editores a criação de efeitos em série, em camadas, máscaras, 3D, tracking, estabilização e opções de videografismo diretamente na timeline enquanto usuários de Premiere e FCP X precisam da ajuda extra do After Effects e Motion, respectivamente.
Tenho experiência bem limitada com o Adobe Premiere e Final Cut Pro, mas atendo centenas de usuários destas ferramentas e vejo que o fato da maioria dos efeitos funcionarem em tempo real chama atenção da maioria. É comum ouvir “ué, mas não precisa de render?”. E de fato, a necessidade de “render” é quase inexistente.
Além disso, com o tempo, a Avid começou a integrar recursos de áudio do Pro Tools (ferramenta também muito difundida no mercado de áudio) para dentro do Avid Media Composer. Mais especificamente, estamos falando de como as ondas sonoras são carregadas sem deixar o sistema lento, processadores como compressores, equalizadores. redutores de ruído e reverberadores, e especialmente importante, recursos de mixagem em surround.
Apesar do Premiere e FCP X terem recursos similares, a maioria concorda que a integração destes não está tão bem implementada quanto o do Avid e Pro Tools.
Então estas questões permitem que o editor prepare um rascunho do material mais próximo possível para uma prévia. É essencial que executivos, empresários e possíveis investidores vejam e ouçam esta prévia da forma mais perfeita possível, pois não podemos contar com o discernimento deles com relação às etapas técnicas que ainda estão por vir.
Conclusão
Vivemos num mundo onde confiança, segurança e estabilidade são peças fundamentais para o sucesso e a Avid conquistou este respeito perante o mercado ao longo dos tempos.
Então, não é uma questão meramente de olhar a interface do Avid e ver o que ele faz. É muito mais sobre o que ele já fez.
Como seus concorrentes Final Cut Pro e Premiere são ferramentas mais baratas e excelentes, preparadas para entregar resultados profissionais tanto quanto o Avid e nem todo produto precisa de algo tão parrudo e complexo quanto o Avid, e por isso estranha o seu domínio do mercado.
Porém, ainda há limitações técnicas que são mais relevantes em grandes workflows, com grande quantidade de mídia para administrar e diversas ilhas e editores rodando em paralelo.
Cristiano Moura é instrutor certificado oficialmente pela Avid. Por meio da ProClass, oferece consultoria, treinamentos customizados além de lecionar cursos oficiais em Avid Media Composer.