Waves Reel ADT – Artificial Double Tracking: O processo de dobras artificiais consagradas dos Beatles

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Os anos 60 foram uma época em que inovações artísticas e tecnológicas andaram lado a lado nos estúdios Abbey Road, em Londres. Lá os Beatles eternizaram a maior parte de sua obra com a ajuda de engenheiros de som que também estavam à frente de seu tempo. Um deles foi Ken Townsend, o inventor do Artificial Double Tracking.

Conceito

O sistema surgiu atendendo a pedidos de John Lennon, que queria uma alternativa ao cansativo processo de repetir takes que são somados para encorpar os timbres. A ideia de Ken era criar um mecanismo que simulasse as pequenas diferenças de tempo e afinação que acontecem naturalmente entre múltiplas performances de um mesmo intérprete, de modo que um take soasse como vários. Ele fez um roteamento partindo do cabeçote de gravação de uma máquina de fita em direção ao cabeçote de gravação de outra e colocou um VCO para controlar a velocidade da segunda (fig. 1). Variações no controle de velocidade faziam a repetição ficar adiantada ou atrasada de forma não linear em relação ao som original, com o pitch modulando conforme a aceleração ou desaceleração, além de fenômenos de phasing e flanging que não aconteceriam em uma dobra normal. John adorou. O grande botão de Varispeed era pilotado manualmente pelo operador de fita e até pelos próprios Beatles às vezes. O resultado pode ser ouvido nos vocais de canções como Lucy In The Sky With Diamonds e Tomorrow Never Knows.

fig. 1 – ADT – Abbey Road

Configurações

Em parceria com os estúdios Abbey Road, a Waves criou o Reel ADT e trouxe a psicodelia dos anos 60 para o mundo digital. O plug-in pode ser usado em dez configurações: Mono, Mono-To-Stereo, Stereo, 2V Mono-To-Stereo, 2V Stereo, Live Mono, Live Mono-To-Stereo, Live Stereo, Live 2V Mono-To-Stereo, Live 2V Stereo. As versões Live têm componentes que garantem latência mínima para performance ao vivo, mas não permitem sinais adiantados em relação ao sinal original, somente sinais atrasados.

Na configuração Mono-To-Stereo qualquer mudança no Pan pode influir muito nos cancelamentos pela interação entre os dois sinais, dando grande flexibilidade ao efeito. No plug-in em Stereo você pode escolher entre o canal esquerdo, direito ou ambos para serem a fonte de som a ser processado. Há também a possibilidade de monitorar a saída em mono para saber o quanto de cancelamento está acontecendo (fig. 2). As configurações 2V têm duas vozes independentes para o ADT. Cada sinal duplicado vai ter seus controles para Pan, Drive, Mute, Phase e Level. É possível programar efeitos bem complexos no 2V Stereo. Os produtores de música eletrônica vão se divertir experimentando automações inusitadas nos parâmetros.

Fig. 2 – Monitoração em Mono para fechar cancelamento de fase

Interface

A interface gráfica do Reel ADT é bem simples. O botão de Varispeed aparece no meio com os cabeçotes de Source, que fica com o playback centrado, e ADT indicados acima. O padrão do plug-in é abrir com o segundo cabeçote adiantado em relação ao som original. Com ambos parados, você teria apenas um efeito de delay. O som característico de dobra artificial acontece com a variação na velocidade do sinal duplicado. O cabeçote mais escuro que aparece atrás do cabeçote de ADT indica visualmente o quanto o sinal está sendo acelerado ou desacelerado.

Uso – Controlando via MIDI

Você pode controlar manualmente o Varispeed com o mouse ou controlador físico para rodar um botão de verdade como se fazia em Abbey Road. Para endereçar, basta fazer um click com o botão direito no plug-in, selecionando Learn no pop-up e mexendo no controle que vai usar. Quando você solta o botão, o modo Latch deixa o Varispeed onde estiver no momento, e o Touch faz ele voltar para o valor que estava antes.

Uso – Entendendo os parâmetros

Ao invés de mudar manualmente a velocidade do segundo cabeçote, você pode usar o oscilador de baixa frequência do plug-in. O LFO tem diferentes opções de atuação: Sine Up, Sine Down, Triangle Up, Triangle Down e Random. O padrão do plug-in é abrir o LFO no modo aleatório, que fica mais parecido com uma dobra real de canais. Com pouco atraso entre os cabeçotes e o LFO em movimento contínuo, você pode fazer efeitos de chorus. Clicando em Sync, o LFO passa a ficar dentro do andamento da sessão (fig. 3). A opção Rate diz qual divisão de tempo vai ser seguida dentro daquele andamento. O Range do LFO determina quanto o cabeçote pode andar horizontalmente, então valores mais altos vão deixar o movimento mais rápido. Com o LFO ligado, o botão de Varispeed passa a controlar onde o Range vai ser centralizado, deixando a oscilação independente da posição do cabeçote de ADT.

fig. 3 – Modulando de acordo com o BPM da sessão

O Reel ADT tem 32 níveis de undo e redo e todos os recursos de preset dos plug-ins Waves. Nas versões Live, os presets que trazem o cabeçote de ADT adiantado têm os valores negativos de atraso convertidos para positivos, de modo que o segundo cabeçote esteja localizado sempre depois do primeiro. É uma limitação irrelevante considerando a quantidade de recursos que continuam disponíveis para performance. Pode ser uma ferramenta interessante para DJs também.

reel-adt

Para aqueles que procuram uma sonoridade mais analógica, o controle de Drive simulando saturação de fita soa bem. O plug-in não precisa ser usado pensando somente em ADT. Dá para fazer o tradicional slap delay de voz colocando distorção e abrindo o panorama 100% com volumes diferentes nos dois lados. Dá para fazer efeitos chorus limpos tipo anos 80 em guitarras e teclados. Dá para fazer levadas futuristas com automações absurdas em loops de bateria. A interface intuitiva é um convite a sair mexendo e vendo o que pode acontecer.

Conclusão

O processo de dobras artificial é utilizado com bastante frequência na maioria dos estilos musicais duplicando canais e adicionando delay em um dos canais, mas que para reproduzir por completo o resultado do ADT, o tempo do delay precisaria ser automatizado e que o delay possua um recursos de modulação de afinação.

 

Então o ADT é um facilitador, muito bem vindo, que simplifica bastante esse processo, e que além disso, atua também sobre o timbre, levando-se em consideração as características da fita.

Autor: Bruno Spadale é engenheiro de som e produtor musical com formação em várias escolas no Rio de Janeiro e Nova Iorque . É certificado oficialmente pela Avid como um “Pro Tools Operator Music” e atua como instrutor da ProClass.