Waves Kramer Master Tape – Só a parte boa de gravar em fita

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Um série de emuladores de fita invadiram o mercado nos últimos anos (Fig. 1A,B,C,D). Poderíamos destacar o Studer A800, Ampex ATR-102 da UAD, mas é necessário ter o sistema da Universal Audio para rodar. O Phoenix II da Crane Song é excelente mas só possui versão AAX, então só roda em Pro Tools 10 ou superiores. O Phoenix I só possui versão TDM, então necessita de um Pro Tools|HD. Outro destaque é o VTM (Virtual Tape Machines) da Slate Digital, mas que precisa da segunda geração do iLok para rodar.

fig. 1A - Studer A800

fig. 1A – Studer A800

fig. 1B - Ampex ATR-102

fig. 1B – Ampex ATR-102

fig. 1C - McDSP AC-2

fig. 1C – McDSP AC-2

fig. 1C - Crane Song PHOENIX_II

fig. 1C – Crane Song PHOENIX_II

fig. 1D - Slate Digital Virtual Tape Machines

fig. 1D – Slate Digital Virtual Tape Machines

 

Já o McDSP AC-202 (versão atualizada do AC-2), é um que venho usando ao longo dos anos e é compatível com AAX, TDM, RTAS, AU mas não possui versão VST.

Continuando a série sobre plug-ins Waves, entendi que seria um boa oportunidade de experimentar o Kramer Master Tape (fig. 2), compatível com todas as plataformas, portanto, útil para todos os leitores.

fig. 2 - Waves Kramer Master Tape

fig. 2 – Waves Kramer Master Tape

 

Neste artigo, além falar um pouco sobre este plug-in, vamos aproveitar para entender um pouco mais do que esperar e como configurar qualquer plug-in de emulação de fitas.

Entendendo o projeto

Muito bem dito no site da Waves, Eddie Kramer (fig. 3) é o cara operando a mesa de som durante as gravações de Purple Haze (Jimi Hendrix), All You Need is Love (The Beatles) e Whole Lotta Love (Led Zeppelin). O projeto da Waves era recriar fluxo de sinal do Olympic Studios, famoso estúdio de Londres onde estas obras primas foram gravadas e ninguém melhor do que Eddie para colaborar neste projeto. O primeiro produto lançado foi o “Waves Kramer HLS Channel” que emulava a mesa, depois o Compressor, que resultou no “Waves Kramer PIE Compressor”, e o “Kramer Master Tape” é a conclusão deste projeto, que emula a máquina de fita do estúdio.

fig. 3 - Eddie Kramer

fig. 3 – Eddie Kramer

Parâmetros

Como em todo emulador de fita, mais importante do que entender o que faz certo botão, é entender qual era o efeito causado. A maioria deles tem a ver com regulagens e calibragem do equipamento, que de maneira similar com uma mixagem e tudo na vida, gera um efeito desejado e um efeito colateral indesejado. O talento está justamente na sensibilidade em conseguir achar o equílibro entre os ganhos e perdas.

Speed

Quando maior a velocidade do rolo, melhor a captura das frequências altas e menos ruído. Por outro lado, uma menor velocidade tende a capturar melhor frequências baixas. Então é exatamente como numa balança, e o usuário é precisa decidir o que é mais importante para o seu som. O gráfico da figura 4 é de uma Ampex, onde a curva azul é o resultado de uma velocidade baixa e a curva vermelha, uma velocidade alta. Fica muito claro os “ganhos e perdas” na resposta de frequência.

fig. 4 - Resposta de frequência - Azul=7.5ips | Vermelho=15ips

fig. 4 – Resposta de frequência – Azul=7.5ips | Vermelho=15ips

A vantagem do plug-in é que, enquanto numa máquina era necessário escolher a velocidade para todo projeto, com o plug-in no insert de cada track, podemos ter escolhas independentes.

A velocidade de 7.5 ips (Inches per Second) era considerada por muitos inadequada para gravações profissionais, porém sua ênfase nos graves fez com que muitos discos de rock fossem gravados nesta velocidade. Esta não é a única, mas uma das razões das gravações da década de 60 soarem levemente mais abafadas do que as atuais.

A velocidade de 15 ips era a qualidade dita como “profissional”, e com a velocidade em dobro, o ruído também dobrava de frequência, soando uma oitava acima e se afastando das fundamentais dos instrumentos. Então esta configuração reduz ruído, aumenta o registro de frequências altas e produzirá menos distorção, ou seja, sons mais limpos e menos saturados. Na teoria parece bom, mas não se esqueça que estamos falando de arte. Experimente e faça o seu julgamento.

A velocidade de 30 ips apareceu depois e não consta no Kramer Master Tape, mas vale mencionar pois será encontrada em diversos plug-ins. E agora, imagino que o leitor sabe o que esperar, mas vamos resumir: mais brilho, menos distorção e menos ruído. Alta qualidade, resposta linear e menos influência sonora no material captado.

Bias

Bias é um sinal de alta frequência introduzido na cabeça da gravação, e apesar de toda máquina ter a sua regulagem recomendada, engenheiros descobriram que se este sinal fosse aumentado levemente, era possível dar um “empurrão” nas frequências altas sem introduzir ruído e ter mais resposta e mais clara. É um efeito similar ao shelving de um equalizador, mas com todo o efeito não-linear da fita magnética (fig. 5).

fig. 5 - Overbias effect

fig. 5 – Overbias effect

O lado negativo é que, a captura deixa de ser linear, ou seja, menos precisão entre o sinal captado pelo microfone e o sinal registrado na fita.

Podemos dizer então que a opção “Nominal” é a regulagem sugerida pelo fabricante, e a opção “Over” é a regulagem alterada por muitos engenheiros de som da época.

Flux

Esta característica é mais sem dúvida a mais complexa, não apenas para explicar como para emular. De forma a adaptar este artigo para uma linguagem menos técnica, podemos simplesmente pensar neste parâmetro como a quantidade de sinal a ser registrada na fita.

Toda fita tem um nível de sinal ideal para registro do sinal, para garantir pouco ruído e nenhuma distorção. Este nível é geralmente entre -2dB e +6dB.

Porém foi notado que ao extrapolar estes níveis (enviando mais sinal para o gravador do que o sugerido pelo fabricante), a distorção era de fato muito interessante e favorável em muitos instrumentos, que atingia com mais ênfase os graves e agudos, e pouca atuação na região média. Uma compressão na faixa dinâmica também era notada, porém de forma diferente de um compressor convencional.

Então de forma simples, entenda o parâmetro Flux como o seu controle de “drive”.

Parâmetros coadjuvantes

Abordamos acima os principais parâmetros para a regulagem do Kramer Master Tape. Menos importantes, temos o “Noise”, que vem configurado como padrão em “off”, pois quase tudo dito acima eram recursos usados para justamente se afastar do ruído. A não ser que o usuário esteja de fato em busca de simular uma gravação antiga ou para Sound Design, não há muito mais motivo para querer adicionar ruído numa gravação.

Temos também o “Wow & Flutter”, que simula pequenas flutuações na velocidade da fita e alinhamento do cabeçote. O resultado eram mudanças suaves de afinação (pitch), de forma geral, desagradáveis e sem nenhuma vantagem timbrística. Novamente, útil se o conceito for simulação uma gravação antiga, mas nada muito mais do que isso.

Por último, uma sessão de delay foi incorporada ao plug-in como forma simples de enviar o sinal de saída novamente para o input do plug-in e obter a sonoridade de um delay de fita. “Delay time” controla a velocidade, “Feedback” controla a quantidade de repetições e “Lowpass” é um filtro o usuário pode configurar para cortar frequências altas a cada re-alimentação do delay.

Apesar de não ser a função principal do plug-in, a sonoridade final do delay agradaram bastante!

Vamos ficando por aqui. Até o próximo mês com mais um artigo da série sobre plug-ins da Waves!

Abraços!


cris3x4 blog proclass Cristiano Moura é instrutor certificado oficialmente pela Avid. Por meio da ProClass,  oferece consultoria, treinamentos customizados além de lecionar cursos oficiais em Avid  Media Composer.