Construindo efeitos no Pro Tools

logo_backstage

Artigo publicado na Backstage. Para conhecer mais sobre a revista, clique aqui.

Para saber mais sobre treinamentos e certificações oficiais em Waves, Pro Tools, Sibelius ou outros treinamentos em áudio, clique aqui.


Exercitando os conhecimentos de forma criativa

O Pro Tools já vem com uma quantidade de plug-ins bem razoável, mas é bem verdade que alguns efeitos como afinadores e compressores multibanda, não são incluídos.

Vale também pensar na sua relação com a arte em si. Por exemplo, inserir um Chorus ou um Phaser numa guitarra ou Rhodes e ajustar os controles e/ou carregar um preset hoje em dia não é suficiente para encantar seu cliente nem é algo que alguém pode considerar como sua “assinatura” como produtor/engenheiro de som.

Vamos ver neste artigo algumas possibilidades em combinar efeitos para criação de novas texturas ou de extrapolar a aplicação de roteamento dentro do Pro Tools. São alguns exemplos com idéias e conceitos que podem servir como ponto de partida para a criação de infinitos efeitos, onde o único limitador é sua criatividade e vontade de experimentar.

Construindo um compressor multibanda

Como dito acima, o Pro Tools não vem com um compressor multibanda e para driblar estas limitações, é muito importante o conhecimento técnico aliado ao talento artístico. Sabendo como é o funcionamento essencial de um efeito, podemos recria-lo.

E o que é um compressor Multibanda?

Em poucas palavras, na maioria das vezes são quatro compressores funcionando em paralelo, onde cada um é responsável por comprimir uma certa faixa de frequência. (fig. 1).

Fig. 1 - fluxo de sinal simplicado de um Compressor Multibanda

Fig. 1 – fluxo de sinal simplicado de um Compressor Multibanda

 

Agora vamos pensar: qual o processador capaz de dividir faixas de frequência como na figura 1?

Sim, o equalizador é este cara. Podemos fazer uso dos filtros passivos para isso.

Fica faltando então apenas pensarmos como criar isso no Pro Tools. Primeiro vamos endereçar o sinal do track de áudio para os quatro auxiliares, e para isso, basta atribuir a saída do track para um Bus, e usar este mesmo bus como entrada dos quatro track s auxiliares.

Segundo, vamos inserir os equalizadores nos auxiliares e configurar os cortes (fig. 2). Eles não precisam (nem devem) ter valores idênticos aos da figura 2. Você pode configurar livremente de acordo com a necessidade.

fig. 2 - exemplo de cortes

fig. 2 – exemplo de cortes

 

Por último, vamos inserir um compressor logo após cada um dos equalizadores e pronto. O resultado completo pode ser visto na figura 3.

fig. 3 - Setup Finalizado

fig. 3 – Setup Finalizado

Neste momento, talvez você esteja se perguntando: mas para que todo este trabalho se já existem centenas de compressores multibanda prontos?

Primeiramente, lembre-se do título do artigo; o foco fugir do óbvio e expandir sua visão sobre as possibiliddes. Também, é essencial pensar na sua vida fora do seu homestudio onde é sua zona de conforto. Trabalhando em estúdios e empresas de terceiros, não dá para simplesmente puxar seu HD externo da mochila e instalar o que você bem quer. Muitas vezes você vai ter que saber lidar com o setup de plug-ins disponíveis.

Por último, e mais importante: o que você acabou de fazer é bem mais poderoso e flexível do que um compressor multibanda convencional. Agora que você aprendeu a dividir as bandas de frequência, você pode endereçar só a faixa de frequências mais altas (agudos) para um reverb por exemplo. Esta é uma tática muito comum para criar ambiência num material mantendo os graves definidos.

Você também pode extrapolar e se livrar do limite de quatro faixas de frequências. Usando este método, você poderia criar 10 compressores em paralelo se quisesse.

E com os faders à sua disposição, você tem um controle rápido e prático de nível das faixas de frequências. Se quiser aumentar os graves do seu sinal, com este método você vai direto no fader ao invés de precisar abrir a interface do plug-in de compressão multibanda.

Delay como “molho especial”

Esta ficando cada vez mais comum encontrar processadores de delay que acrescentam chorus, phaser, distorção etc que é muito interessante. Ajuda a sair da “mesmice” e trazer uma característica particular ao som, e sem dúvida, podemos usar o mesmo conceito com os plug-ins do Pro Tools e um pouquinho de endereçamento do Mixer.

Pode parecer a princípio que é só uma questão de inserir um efeito após o delay. Por exemplo: para ter um pouco de distorção no delay bastaria inserir um distorcedor após o delay (fig. 4), mas não é bem assim.

fig. 4 - Configuração estática

fig. 4 – Configuração estática

A arquitetura destes plug-ins é mais interessante. A distorção (ou outro efeito qualquer) se acumula conforme as repetições vão acontecendo.

Ou seja, a primeira repetição passa pela distorção e enviada de volta para o delay (feedback), que atrasa o sinal mais uma vez e aplica a distorção novamente. Na terceira, acontece o mesmo processo e vai assim por diante… O resultado é que conforme as repetições vão acontecendo o sinal vai perdendo força (soando mais baixo) e também ficando cada vez mais distorcido.

No exemplo da figura 4 o resultado seria diferente. Todas as repetições seriam distorcidas da mesma forma.

Ok, então é hora de recriarmos o nosso… e nem pense em desanimar, pois é bem mais fácil do que você pode imaginar.

Vamos criar um delay de forma convencional (via aux input e busses) e inserir uma distorção após do delay (exatamente como na figura 4).

A dificuldade fica por conta do feedback (repetições). Ele não pode ser aplicado dentro do plug-in. Então configure o feedback do delay para 0% (fig. 5), e vamos dar um jeito de fazer o feedback acontecer “externamente”.

Fig. 5 - Feedback zerado no Delay

Fig. 5 – Feedback zerado no Delay

Você já parou para pensar o que é o parâmetro “feedback” do delay? Ele controla a quantidade de som atrasado enviada novamente para dentro do delay.

Para fazer isso externamente, basta enviar (via send) o sinal do delay + distorção novamente para o input do auxiliar track (fig. 6). Quanto mais sinal enviado, mais repetições.

Fig. 6 - Configuração dinâmica

Fig. 6 – Configuração dinâmica

 

IMPORTANTE: há de se ter cuidado com o nível do sinal. Você está realimentando manualmente, por isso você deve evitar exceder 0dB senão a cada “loop” de sinal, haverá um acréscimo no nível que pode danificar equipamentos.

MAIS IMPORTANTE AINDA: não se deve fazer isso sem um delay inserido no track.

E é isso. Vamos ficando por aqui, mas tente pensar em novas combinações: Delay + Phaser, Reverb + EQ, Compressor + Delay… todas estas combinações são válidas e depende de vocês encontrar que ambiente, estilo de música e instrumentos podem se beneficiar das sonoridades criadas.

Abraços,


cris3x4 blog proclass Cristiano Moura é produtor musical e instrutor certificado da Avid. Atualmente leciona  cursos oficiais em Pro Tools, Waves, Sibelius e os treinamentos em mixagem na ProClass.  Por meio da ProClass, oferece consultoria, treinamentos customizados em todo o Brasil.